Entrevista com Regina Brandão por Rodrigo S. Falcão

Entrevista com Regina Brandão por Rodrigo S. Falcão

 Blog: Comente um pouco sobre sua trajetóira profissional? Sobre sua formação acadêmica e atuação.

 
Regina: Me formei em psicologia em 1977 e trabalhei durante 10 anos em psicologia clínica e dei aulas no curso de psicologia da Unip. Em 1989 iniciei curso de “Formação em Pesquisador em Ciências do Esporte” no Celafiscs, em São Paulo, sob a orientação do Dr. Victor Matsudo com o objetivo de me iniciar na área da psicologia do esporte até então dirigida pela psicóloga Sandra Cavasini. Ao iniciar meus estudos no CELAFISCS, Sandra saiu e eu fiquei sem orientador para a área, mas desenvolvendo projetos de pesquisa e participando como membro ativo nas pesquisas e nos simpósios internacionais anuais. Em um desses simpósios conheci o Dr. Nico Pozas do Instituto Superior de Cultura Física de Havana que me convidou para ir a Cuba fazer um programa de pós-graduação. De 1990 a 1992 estive em Cuba e fiz 1600 horas de cursos em psicologia do esporte tendo trabalhado especialmente com o Dr. Francisco Garcia Ucha, Dr. Hirám Valdés Casal e Dr. Leonell Russel no Instituto Superior de Cultura Física e no Instituto de Medicina Esportiva. Ao voltar ao Brasil fui convidada para trabalhar com o técnico José Roberto Guimarães na preparação da seleção masculina de voleibol para a Olimpíada de Barcelona e também comecei a fazer parte do staff da Academia Meyer Tennis, oferecendo atendimento e palestras para os atletas, treinadores e pais de tenistas. De 2000 à 2003 trabalhei com o técnico Lula Ferreira no time do COC Ribeirão Preto de Basquete.

Ao mesmo tempo que desenvolvi minhas atividades profissionais fiz mestrado em Desenvolvimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria, RS, Doutorado em Ciências do Esporte pela Unicamp,  e Pós-doutorado pela Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa, Portugal.

Atualmente, tenho um consultório de psicologia que oferece atendimento psicológico à atletas de diferentes modalidades esportivas, assessoria à equipes e treinadores, cursos e palestras para interessados na área. 

 Blog: Que abordagem teorica você utiliza para desenvolver seu trabalho?

Regina: Depende da modalidade que trabalho, do momento esportivo vivenciado, das experiências e idade dos atletas e do contexto onde a modalidade está inserida. As avaliações e técnicas utilizadas levam em consideração todos esses aspectos.

Blog: O futebol é um fenômeno socio-cultural, que possui grande influência em todo o mundo. Como é trabalhar com a modalidade mais popular do planeta?
 

Regina: O futebol não é diferente das outras modalidades em termos de requisitos físicos, técnicos, táticos e psicológicos. Ganha importância, o contexto do futebol profissional, a interferência da mídia e dos torcedores e o diretivo do futebol. Saber compreender e se posicionar frente a estes aspectos ganha importância em nosso trabalho.

Blog: Conte-mos um pouco sobre seu trabalho com futebol.

Regina: Em 1995  fui convidada pelo Prof. João Paulo Medina para trabalhar no São Paulo Futebol Clube iniciando-se, assim, meus trabalhos em equipes de futebol profissional. Posteriormente, em 1997, o Prof. Medina me convidou para trabalhar no Internacional de Porto Alegre, clube no qual pude trabalhar, ao longo de 4 anos, com os seguintes treinadores: Celso Roth, Paulo Autuori e Carlos Alberto Parreira. Também recebi convite de Celso Roth para desenvolver meus trabalhos no Grêmio e no Santos quando foi treinador dessas equipes.
Em 1998, fui convidada para trabalhar com o técnico Luiz Felipe Scolari no Palmeiras, que se sagrou campeão da Copa do Brasil, no Cruzeiro e na Seleção Portuguesa, em sua preparação para a Eurocopa 2004. Também prestei assessoria ao técnico Luiz Felipe Scolari durante a Copa do Mundo de Futebol de 2002, quando o Brasil conquistou o pentacampeonato de futebol.  Além de, ter assessorado três equipes que disputaram a Copa do Mundo de 2006, Brasil, Portugal e Arábia Saudita.

Blog: Sua atuação não é somente prática é também acadêmica.  Existe algum tema específico que você estude?
 
Regina: Atualmente, leciono  no programa de mestrado e doutorado em Educação Física e Coordeno a Iniciação Científica da Universidade São Judas Tadeu. Desenvolvo diversos projetos de pesquisa nos temas de meu interesse: estresse e burnout no esporte, resiliência no esporte, psicologia da arbitragem, avaliação psicológica de atletas olímpícos e paraolímpicos, imagem corporal, estudos cross-culturais no esporte e fluxo no esporte.

Blog: Na sua opinião. Por quê a Psicologia do Esporte ainda não possuí o reconhecimento merecido entre a grande maioria dos atletas, técnicos, dirigentes e clubes esportivos?
 
Regina: Apesar da Psicologia do Esporte ser uma área empolgante a qual tenho me dedicado ao longo desses últimos 23 anos observo que ainda há uma falta de informação sobre qual o real papel do psicólogo dentro de uma equipe esportiva, nós não “cortamos, selecionamos ou escalamos” nenhum atleta, mas ajudamos o atleta a ter um estado emocional  ótimo visando a excelência esportiva. Considero os treinados meus “olhos” do ofício e isso significa que trabalho através deles, os instrumentalizando para conhecerem muito bem seus atletas e poderem se comunicar com eles da melhor maneira possível. Não acredito quando um treinador me pede para fazer uma palestra motivacional a seus atletas, é ele que deve saber fazer isso e cabe a nós psicólogos que instrumentalizemos os treinadores para que possam fazer isso com excelência.
Todas as modalidades têm suas especificidades e demandas psicológicas, conhecê-las profundamente é obrigação de quem quer trabalhar com esporte, portanto, só considero psicólogo do esporte quem de fato se especializa na área, o que quer dizer que não basta ser formado em psicologia e trabalhar com atletas para ser um psicólogo do esporte, é preciso conhecer o contexto do esporte que se pretende trabalhar e quais os protocolos e estratégias que podem ser usadas com atletas.

Entrevista realizada por Rodrigo Scialfa Falcão, publicada em seu blog em fevereiro de 2011. Disponível em: https://psicologianoesporte.com.br/futebol/entrevista-regina-brandao/